“Muitos consideraram-no impossível.” Pela primeira vez, foi transplantado um olho completo

By | 12/11/2023

Cirurgia demorou 21 horas e ainda não se sabe se Aaron James, que sobreviveu a uma descarga elétrica de 7200 volts, vai recuperar a visão, mas o sucesso da intervenção é já um marco da Medicina.

Uma equipa de cirurgiões de Nova Iorque anunciou, esta quinta-feira, que realizou, pela primeira vez na história, um transplante de um olho inteiro num paciente vivo. A operação é descrita como um marco na Medicina, embora ainda não se saiba se o paciente vai conseguir recuperar a visão.

O beneficiário da cirurgia é Aaron James, um operário de 46 anos que, em 2021, sobreviveu a uma descarga elétrica de 7200 volts ao tocar com a cara num cabo eletrificado: perdeu o olho esquerdo, o braço esquerdo acima do cotovelo, todo o nariz e lábios, além dos dentes da frente, a bochecha esquerda e o queixo até ao nível do osso.

Eduardo Rodríguez opera Aaron James

Do dador foram extraídos parte do rosto e todo o olho esquerdo, tendo depois o material biológico sido utilizado para a intervenção pelo NYU Langone Health, um centro médico líder em reconstrução facial, já em maio deste ano.

O transplante bem-sucedido de um olho inteiro é perseguido pela Medicina há largos anos e, embora os cientistas tenham conseguido algum em ratos, devolvendo-lhes parcialmente a visão, a operação nunca tinha sido realizada numa pessoa viva.

“O simples facto de termos realizado o primeiro transplante de olho completo com rosto é uma enorme conquista, muitos consideraram-no impossível durante muito tempo”, disse Eduardo Rodríguez, que liderou a operação.

O procedimento durou 21 horas e nele foram utilizados guias de corte construídos em 3D especificamente para Aaron James. “Não podíamos ter pedido um paciente mais perfeito”, assegurou Rodríguez citado pela agência France-Presse.

O olho transplantado tem dado sinais de boa saúde e há fluxo de sangue para a retina, a parte que recebe a luz e envia sinais para o cérebro, que o interpreta como imagens, mas ainda não é certo que o paciente vá recuperar a visão.

Aaron James tem o olho direito intacto e foi considerado um candidato ideal para a operação pioneiro porque, ao também precisar de um transplante facial, teria de tomar medicamentos imunossupressores, favorecendo o custo-benefício da operação, ainda que o seu valor inicial fosse apenas cosmético e não de visão.

“Estou muito grato ao doador e à sua família, deram-me uma segunda oportunidade para viver perante um momento de grande dificuldade. Espero que a família encontre consolo em saber que parte do doador vive agora comigo”, disse James, que voltou em setembro, quatro meses depois da intervenção, ao estado do Arkansas, onde nasceu e vive, para estar com a mulher e filha. Seguem-se consultas mensais de acompanhamento em Nova Iorque.

(TSF)