“Devemos temer a Inteligência Artificial?” À conversa no podcast Perguntar Não Ofende

By | 15/02/2023

João Gabriel Ribeiro, editor do Shifter, participou recentemente no podcast Perguntar Não Ofende, da autoria do jornalista Daniel Oliveira e publicado no Expresso. A conversa teve como tema da Inteligência Artificial (IA) e passou pelo ChatGPT, mas também pela importância do jornalismo.

Podes ouvir o episódio aqui:

A Inteligência Artificial é, há muito tempo, um dos temas fortes do Shifter. O seu potencial transformador é inegável, e o momento para aprender mais sobre esta tecnologia e debater os seus potenciais usos e riscos é agora. Recentemente, publicámos sobre o ChatGPT – à boleia do entusiasmo em torno desta interface, mergulhámos a fundo no universo dos modelos de IA de geração de texto, e na peculiar relação entre o desenvolvimento de IA e a sua implementação; explicamos quem criou o modelo, como é que este funciona e porque é inovador, e quais as principais críticas a considerar. É sobre isso que falamos nesta entrevista.

Voltando ao podcast. Podes ler em baixo algumas das melhores citações:

“Inteligência Artificial é o termo guarda-chuva onde cabem várias ideias, processos e modelos encontrados pela tecnologia para tentar replicar as capacidades que o cérebro humano desenvolve.”

“O que eles [os modelos de IA como aqueles que suportam o ChatGPT] fazem não é criar texto no sentido em que nós imaginamos, porque nós pensamos e depois expressamos esse pensamento. O que eles fazem é criar o texto mais provável dado um determinado comando. Esta ideia de probabilidade rasga bastante com aquilo que é a nossa ideia de criar um texto. Nós, quando criamos um texto, jogamos mais com a ideia de improbabilidade, de tentarmos ser originais.”

“Aquele entusiasmo que vivemos com a blockchain foi transportado para a IA e o ChatGPT. Não é um acaso. É o dinheiro do capital de risco que se movimenta de um lado para o outro e que tem de gerar estas ondas de entusiasmo para que as aplicações vendam.”

“É esta a ideia do Transformer que é completamente disruptiva da forma como estávamos a programar a IA até aqui. A grande vantagem dos Transformers, aquilo que agora alavancam, é a capacidade de processamento paralelo que os computadores têm. Antigamente, os computadores tinham processadores muito mais reduzidos e eram capazes de fazer menos operações em paralelo”

“Temos de perceber que tipo de tarefas queremos delegar para a máquina, e que tipo de tarefas não queremos. Acho que a originalidade pode ser um critério para pormos em cima da mesa. Se queremos originalidade, é melhor não ceder à máquina.”

“Aquilo em que baseio o meu trabalho é no entendimento da máquina. A partir do [momento em que] entendemos algo criticamente, a capacidade de isso nos assustar é muito menor, e ganhamos controlo sobre o que estamos a falar.”

“Para muita gente, o ChatGPT era o fim do jornalismo. Para mim foi óptimo para gerar exemplos de como podia explicar determinadas coisas às pessoas, sem que tenha depois usado o que ele me gerou, mas usei para me inspirar e como mais uma ferramenta no meu trabalho. Da mesma forma que há muito muito tempo que integro no meu processo de trabalho outros modelos de IA, por exemplo, para reconhecimento de discurso. Quem é o jornalista que gosta de transcrever entrevistas? Se tivermos uma IA, é óptimo.”

“Se testarmos a máquina em operações lógicas muito básicas para um ser humano, percebemos que aquilo é muito falível. Se percebemos que a máquina falha em coisas tão básicas para o raciocínio humano e mesmo assim quisermos delegar o nosso trabalho, o problema é nosso.”

“Acho que o que esta a acontecer agora é esse ELIZA Effect, de estarmos completamente vidrados com a capacidade de a máquina gerar texto. Estamos a projectar na máquina coisas que ela não tem. Esta ilusão criada sob a máquina e pela máquina tem-nos mostrado a nossa capacidade de acreditar muito na tecnologia.”

(Shifter)