Teorema da não-clonagem, base da nota infalsificável, foi posto em prática pela primeira vez em França. Processo envolve troca de fotões entre o utilizador e um banco quântico.
A ideia de dinheiro quântico acaba de se tornar mais real. Um grupo de investigadores desenvolveu uma espécie de “cartão de débito” capaz de armazenar uma moeda impossível de falsificar.
O conceito de dinheiro quântico foi inicialmente proposto em 1983 pelo físico Stephen Wiesner, que utilizou o chamado teorema da não-clonagem — uma lei fundamental da física quântica que impede a cópia exata de informação quântica — como base para criar notas infalsificáveis.
A proposta, considerada fundadora da criptografia quântica, nunca tinha sido testada de forma prática que permitisse o armazenamento da moeda — até agora, conta a New Scientist.
A equipa de Julien Laurat, do Laboratório Kastler Brossel, em França, conseguiu pela primeira vez guardar “notas” quânticas através de um dispositivo de memória integrado no sistema.
O processo envolve a troca de partículas de luz, ou fotões, entre o utilizador e o banco quântico, de acordo com o estudo publicado a 19 de setembro na Science Advances. Os estados desses fotões podem ser depositados na memória — funcionando como carregar saldo num cartão de débito — e recuperados mais tarde sem perda da informação quântica.
Para construir esta memória, os cientistas recorreram a centenas de milhões de átomos de césio arrefecidos a apenas alguns milionésimos de grau acima do zero absoluto, com lasers.
Nestas condições extremas, os estados quânticos dos átomos puderam ser manipulados com grande precisão. Após anos de testes, Laurat e colegas demonstraram que os fotões podem ser armazenados e libertados sem corromper o sistema, algo essencial para a viabilidade de uma “conta bancária” quântica.
Apesar do avanço, o tempo atual de armazenamento alcançado ronda apenas seis milionésimos de segundo, um limite que torna a tecnologia impraticável para uso real, por enquanto.
O próximo objetivo da equipa francesa é precisamente prolongar drasticamente esse tempo de memória. Se fosse mil vezes superior, a tecnologia poderia ser aplicada em redes quânticas metropolitanas já existentes em várias cidades.
No futuro, além de possibilitar transações monetárias totalmente seguras, memórias quânticas avançadas poderão também desempenhar um papel crucial em comunicações quânticas de longa distância e na interligação de múltiplos computadores quânticos, criando sistemas mais poderosos.
(ZAP)
