Tomando por correta a sucinta definição que nos é dada na página Psicanalise Clínica «Um comportamento de compulsão é aquele que faz com que uma pessoa faça alguma coisa que a princípio dá prazer, mas depois traz culpa e ressentimento» (1).
Não vou aqui analisar a relação destes comportamentos com os mecanismos de libertação de dopamina, conversa para a qual não tenho formação adequada. Tomarei apenas como certo que o comportamento compulsivo resulta de uma pulsão interior para a realização de um determinado comportamento que acarreta para o agente uma sensação de prazer ou satisfação que o leva a renovar reiteradamente esse comportamento.
Observado os comportamentos que assumimos nas redes sociais, não posso deixar de pensar que a nossa participação nestes espaços digitais já não se prende verdadeiramente com uma genuína (e natural) necessidade de interação social, agora maioritariamente realizada em ambientes digitais. Parece-me que caminhamos em massa para uma sociedade de interação digital compulsiva. Em que o prazer se extraí do mero ato de transmitir um qualquer conteúdo a uma indistinta massa de conexões indiferentes.
Eu próprio já senti necessidade de me impor limites. Limito as vezes que consulto as redes sociais (no meu caso essencialmente o LinkedIn), a quantidade e natureza dos “post” que remeto, os comentários que respondo ou não… Chego ao ponto de me impor anualmente umas “férias do digital” para desintoxicação (2).
Na verdade, não poucas vezes apercebo-me que as minhas interações digitais extravasam o debate político, profissional, científico ou social, e rapidamente se enredam numa obsessiva necessidade debitar na rede mais um qualquer conteúdo que reitera, renova ou contradiz o que dedilhei ainda segundos antes.
E, olhando em volta, facilmente verificamos que interagimos massivamente nas redes sociais, sem qualquer propósito social ou profissional, para além do constante debitar de conteúdos irrefletidos, tantas vezes reproduzidos, reencaminhados, ou até gerados por sistemas de IA.
Conversar, debater ou simplesmente socializar pressupõe uma partilha de conteúdos com um qualquer propósito a que os envolvidos aderem. Despejar conteúdos para uma massa indistinta de conexões não é isso.
Neste sentido, chamar-lhes “redes sociais” é já um paradoxo. Nas redes sociais já não se socializa, dedilha-se compulsivamente!
Vivemos uma época de compulsão digital massificada.
Uma verdadeira pandemia de um qualquer transtorno compulsivo digital.
