Imagens inéditas dos polos do Sol revelam novos segredos sobre sua atividade magnética.
Pela primeira vez na história, uma sonda espacial registrou imagens detalhadas dos polos do Sol. A conquista é da missão Solar Orbiter, desenvolvida pela Agência Espacial Europeia (ESA) em parceria com a NASA. Diferente de missões anteriores, a Solar Orbiter foi projetada com uma órbita inclinada, o que permitiu captar uma nova e inédita perspectiva dos polos solares — uma área essencial, mas até então pouco explorada da nossa estrela.
Os cientistas acreditam que essa nova visão possibilitará avanços significativos na compreensão do campo magnético solar, além de revelar fenômenos dinâmicos e imprevisíveis que ocorrem nas regiões polares do Sol. De acordo com comunicado da ESA, divulgado em 11 de junho de 2025, ainda há uma grande quantidade de dados da missão a ser processada, o que mantém as expectativas elevadas para descobertas futuras.
Missão histórica: primeira órbita de polo a polo do Sol
A primeira órbita completa ao redor do Sol — do polo norte ao polo sul — teve início em fevereiro de 2025. No entanto, parte dos dados só será transmitida à Terra em outubro do mesmo ano. Entre 16 e 17 de março de 2025, a sonda registrou imagens do polo sul solar a partir de um ângulo de 15° abaixo do equador, algo inédito na exploração solar.
Segundo Hamish Reid, co-líder do instrumento EUI da University College London (UCL), “essas imagens são apenas o começo. Não sabemos exatamente o que vamos encontrar — é possível que descubramos fenômenos até então desconhecidos.”
Tecnologia avançada para decifrar o magnetismo solar
A Solar Orbiter está equipada com três instrumentos principais que fornecem uma visão abrangente da atividade solar:
- PHI (Polarimetric and Helioseismic Imager): captura imagens em luz visível e realiza o mapeamento do campo magnético solar;
- EUI (Extreme Ultraviolet Imager): registra imagens em ultravioleta extremo, permitindo o estudo do plasma superaquecido da coroa solar;
- SPICE (Spectral Imaging of the Coronal Environment): analisa a emissão de luz por plasmas a diferentes temperaturas, contribuindo para modelar a estrutura da atmosfera solar.
Ao combinar essas diferentes abordagens, os cientistas buscam mapear com precisão o fluxo de material e os padrões de movimento nas camadas externas do Sol — incluindo possíveis vórtices polares, semelhantes aos já observados em Vênus e Saturno.
Descobertas iniciais indicam estrutura magnética caótica nos polos
Uma das primeiras revelações da Solar Orbiter é que os campos magnéticos ao redor do polo sul solar exibem uma estrutura desorganizada e complexa. Ao contrário dos campos magnéticos tradicionais, com polaridades norte e sul bem definidas, o polo sul apresenta uma coexistência de polaridades, desafiando os modelos atuais de magnetismo solar.
Segundo Sami Solanki, líder da equipe do PHI no Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar (MPS), “a Solar Orbiter alcançou altas latitudes solares no momento ideal, permitindo acompanhar esse fenômeno a partir de uma posição estratégica.”
As observações também confirmam que, enquanto o equador solar apresenta os campos magnéticos mais intensos, os polos estão em constante transformação, com estruturas mais complexas e mutáveis.
Vento solar e a heliosfera: nova perspectiva em estudo
Além do mapeamento magnético, a missão também mede a velocidade de ejeção de partículas como átomos de carbono nas plumas e jatos solares. Segundo Chris Owen, líder do instrumento Solar Wind Analyser, “essa nova perspectiva permitirá entender melhor como o vento solar se propaga e dá origem à heliosfera — a enorme bolha de partículas solares que envolve o Sol e os planetas do Sistema Solar.”
(Engenhariae)
