Retomo hoje um tema que já abordei em dezembro passado num texto com o título Diz-me com quem andas na NET (1). A opção por estar, ou não, em determinada rede social é assunto da moda. E neste caso com grande pertinência.
Independentemente das simpatias políticas que possamos ter, parece-me cada vez mais evidente que as redes sociais digitais (e as grandes multinacionais que as detêm) assumem um poder cada vez mais relevante nas opções individuais e coletivas.
A sociedade da informação, que pensávamos evoluir para um mercado digital global, deixou de ser apenas um espaço encontro social e de comércio de bens e serviços. Passou a ser, como no antigo Fórum Romano, o centro da vida pública “o local de cerimónias triunfais e de eleições, o local onde se realizavam discursos públicos, os processos criminais, os confrontos entre gladiadores, e o centro dos assuntos comerciais” (2).
É nestes novos fóruns digitais que se formam os hábitos sociais, as tendências de consumo, as opiniões políticas e filosóficas.
Sendo que os novos fóruns digitais não são reservados à comunidade de uma determinada urbe, nem se regem pelas mesmas regras de intervenção, nem sempre proporciona um debate com interlocutores conhecidos e/ou identificados.
Milénios de evolução tecnológica da comunicação alteraram a forma como estes espaços públicos se organizam, como participamos neles e, nessa medida também, como neles se formam as vontades coletivas. Como expliquei no texto Comunidades digitais , “a comunidade determina, e de forma ainda mais incisiva (e por vezes subliminar), os comportamentos dos seus membros” (3).
E é cada vez mais evidente que não podemos contar com as organizações que gerem estes fóruns digitais para controlar o acesso ou a intervenção dos seus membros. Na verdade, para os seus promotores a valor da rede mede-se pelo número de participantes e participações, e não pela sua qualidade. Todas redes promovem a adesão e participação de o maior número de utilizadores possível, não por uma qualquer benemérita promoção da igualdade ou liberdade de expressão, mas porque é pela quantidade de tráfego que se gera o lucro da rede! Mais pode não ser melhor, mas é mais lucrativo.
Por outro lado, é impraticável excluirmo-nos dos ambientes digitais. A infoexclusão, sendo uma opção legítima, não é viável para a maioria das pessoas, e não estou certo de que seja sequer desejável.
Estou convencido que, cada vez mais, é preciso reassumir o controlo da nossa conexão digital. Ponderar riscos e oportunidades. Fazer escolhas!
No que às redes sociais diz respeito, precisamos de ter a coragem e o sentido crítico de escolher onde queremos construir a nossa opinião e com quem o queremos fazer.
É preciso de força de vontade ara escolher em que fórum queremos partilhar a nossa opinião, e quais a opiniões que queremos ouvir. E as que não queremos.
Não podemos continuar a deixar que as modas, tendências e, em última análise, um qualquer algoritmo cujos critérios desconhecemos sejam o decisor de quem forma a nossa comunidade e com quem temos de interagir. Temos de assumir a liberdade de escolher.
(PDV)