Se nos concentrarmos na definição mais direta de Humanizar, percebemos que se trata de “dar condição ou forma humana, a alguém ou algo, de modo a se tornar (mais) humano, familiar e personalizável”. Quando queremos unir este conceito à tecnologia e partindo da primeira definição, diríamos então que humanizar a tecnologia é criar “tecnologia” que vá além da pura funcionalidade, de forma a criar uma interação agradável, com ergonomia, interfaces mais fáceis de utilizar, com sistemas e algoritmos que se conformem às intuições éticas e políticas, evitando preconceitos ou manipulações. Humanizar significa também tornar o que é tecnológico mais capaz de interpretar e reagir a fatores humanos, tais como o reconhecimento das emoções dos utilizadores. Em outras palavras, não basta programar um algoritmo para abrir uma porta automaticamente e na hora certa, é preciso encontrar uma forma de fazer isso demonstrando alguma característica humana, como a gentileza.
Mas, permitam-me acrescentar ainda que, humanizar também significa educar e formar os utilizadores, envolvendo-os em todos estes desenvolvimentos, ajudando-os a compreender os riscos e benefícios de cada desenvolvimento, explicando sistemas complexos a fim de criar confiança nestes sistemas. Trata-se também de utilizar a automatização inteligente para colocar os trabalhos mais mecânicos, pesados e perigosos nas mãos das máquinas, deixando as pessoas mais livres para outro tipo de tarefas de valor acrescentado.
A área da saúde é um excelente exemplo, uma inovação vertiginosa, cada vez mais presente nas nossas vidas através de ferramentas e terapêuticas que fazem a diferença nos cuidados de saúde e na qualidade de vida de todos nós, salvando cada vez mais vidas, pois permite realizar diagnósticos mais precisos e cada vez mais rápidos. A tecnologia em saúde tem sido um caminho fascinante, permitindo proporcionar melhores cuidados de saúde com mais equidade. Contudo, estas inovações não nos podem fazer esquecer a componente humana, na relação com o doente, para o motivar, na empatia na hora de dar más notícias, na segurança, na verdade e confiança ao discutir análises terapêuticas, um rosto humano não tem substituto tecnológico.
Humanizar a tecnologia é uma abordagem que pretende essencialmente garantir que a tecnologia esteja ao serviço das pessoas e não o contrário. Vale a pena lembrar também, o exemplo da escola, que em muitos cenários, só foi possível durante o período mais restritivo da pandemia, devido à tecnologia, que permitiu conectar os humanos. O avanço estava na possibilidade de conexão e não em ter máquinas a lecionar.
Mas, como pôr em prática esta humanização da tecnologia?
Não adianta ter algoritmos éticos e humanos se a aplicação a partir da qual podem ser utilizados não for de fácil utilização e não for acessível a pessoas com algum tipo de deficiência. E vice-versa: não faz sentido ter uma ferramenta que possa ser utilizada por qualquer pessoa, independentemente das suas capacidades, origem e condição, se o código que a sustenta estiver repleto de preconceitos. Em qualquer um dos casos, enumero abaixo alguns aspetos a partir dos quais podemos (e devemos) trabalhar para alcançar uma tecnologia mais humanizada:
Experiência do utilizador (UX)
É um dos primeiros aspetos a ser considerado no processo de desenvolvimento de um novo produto. Tenta responder a perguntas como: se o produto será útil ao utilizador, se será fácil de localizar, desejável ou acessível ou até mesmo se estará adaptado ao utilizador e não o contrário.
O francês Denis Bertrand afirma que a nossa mente constrói um mito à volta da tecnologia, o que nos impede de compreender o produto e, portanto, de o experimentar adequadamente. Este cenário apresenta duas consequências possíveis:
- Rejeitamos a tecnologia e por isso recusamos a sua utilização (algo que pode acontecer, por exemplo, a pessoas idosas).
- Sentimo-nos viciados no produto (o que é provável que aconteça, por exemplo, entre os mais jovens). Isto prova um comportamento irracional reconhecido como “viciante” pelos fãs do produto.
Desta forma, na humanização da tecnologia, devemos desmistificar a experiência de utilizador de modo que o utilizador queira utilizá-la realmente, integrando-a nas suas vidas, mas sem ser intrusivo.
Adotar inteligência social/emocional
Ao desenvolver qualquer tecnologia, o objetivo é responder a uma necessidade dos utilizadores(pessoal, profissional, lazer, etc.). Este desenvolvimento deve ser empático, na medida em que aqueles que concebem o produto devem colocar-se no lugar dos potenciais utilizadores e considerar a viagem emocional que estes atravessam ao enfrentarem o problema.
Privacidade pelo design
Embora esta seja uma obrigação imposta com a proliferação de leis e regulamentos que respeitam o tratamento dos dados pessoais dos utilizadores, a privacidade através do design é outra forma de humanizar a tecnologia, uma vez que esta encontra-se ao serviço das pessoas e não o contrário.
Testes antes de entrar em produção
Relacionado com o acima exposto, uma boa maneira de humanizar a tecnologia é fazer testes de usabilidade com pessoas reais antes de o produto entrar em produção.
Mesmo tendo em conta todos os parâmetros acima mencionados, não devemos esquecer que quando os seres humanos interagem, tendem a partilhar um sentido muito forte do que é emocional, social e fisicamente apropriado. No entanto, a maior parte das experiências de produtos, atualmente, quase não possuem essa inteligência emocional ou competências sociais. A interação humana pode ser um modelo forte para melhorar a forma como a tecnologia responde às pessoas.
A evolução tecnológica tem mostrado possibilidades extraordinárias que têm contribuído para avanços admiráveis em diversos setores de atividade em todo o mundo, atualmente, a procura de transformação não é apenas digital, ocorrendo também na forma como as pessoas pensam. A humanização da tecnologia nas empresas cria a necessária ligação dos colaboradores às mudanças digitais e maximiza o fluxo de trabalho diário.
A humanização da tecnologia é a solução sustentável para o futuro, colocarmos as pessoas no centro da utilização da tecnologia é essencial para que as empresas e negócios em todo o mundo cumpram o seu papel fundamental, que é o de facilitar a vida de todos nós, assegurando que as empresas evoluem em conjunto com os seus clientes e colaboradores.
(Exameinformatica)