A sonda InSight, da NASA, registrou terremoto de magnitude 4 na Escala Richter em 24 de dezembro de 2021 em Marte, mas os cientistas descobriram apenas mais tarde a causa desse terremoto: um ataque de meteoroide, estimado como um dos maiores já vistos em Marte desde que a NASA começou a explorar o cosmos, afirmou a agência em comunicado. Além disso, o meteoroide escavou pedaços de gelo do tamanho de pedregulhos enterrados mais perto do equador marciano do que nunca – uma descoberta com implicações para os planos futuros da NASA de enviar astronautas ao Planeta Vermelho.
Os cientistas determinaram que o terremoto resultou de um impacto de meteoroide quando analisaram imagens de antes e depois do MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) e avistaram nova cratera.
Oferecendo rara oportunidade de ver como um grande impacto abalou o solo em Marte, o evento e seus efeitos são detalhados em dois artigos publicados nesta quinta-feira (27) na revista Science.
Estima-se que o meteoroide tenha medido de 5 a 12 metros – pequeno o suficiente para queimar na atmosfera da Terra, mas não na fina atmosfera de Marte, que é apenas 1% tão densa quanto a do nosso planeta.
O impacto, em região chamada Amazonis Planitia, criou cratera de aproximadamente 150 metros de diâmetro e 21 metros de profundidade. Parte do material ejetado pelo impacto voou até 37 quilômetros de distância.
Com imagens e dados sísmicos documentando o evento, acredita-se que esta seja uma das maiores crateras já testemunhadas formando qualquer lugar no Sistema Solar. Existem muitas crateras maiores no Planeta Vermelho, mas são significativamente mais antigas e anteriores a qualquer missão em Marte.
“É sem precedentes encontrar um novo impacto desse tamanho”, disse Ingrid Daubar, da Brown University, que lidera o Grupo de Trabalho de Ciência do Impacto da InSight. “É um momento emocionante na história geológica e temos que testemunhar isso.”
InSight perto de sua “morte”
A InSight viu seu poder diminuir drasticamente nos últimos meses devido à poeira que se deposita em seus painéis solares. Espera-se que a espaçonave seja desligada nas próximas seis semanas, encerrando a missão.
A InSight está estudando a crosta, o manto e o núcleo do planeta. As ondas sísmicas são fundamentais para a missão e revelaram o tamanho, a profundidade e a composição das camadas internas de Marte. Desde o pouso do rover, em novembro de 2018, o InSight detectou 1.318 terremotos, incluindo vários causados por impactos de meteoroides menores.
Mas o terremoto resultante do impacto de dezembro passado foi o primeiro observado a ter ondas de superfície – espécie de onda sísmica que ondula ao longo do topo da crosta de um planeta.
O segundo dos dois artigos da Science relacionados ao grande impacto descreve como os cientistas usam essas ondas para estudar a estrutura da crosta de Marte.
Histórico da nova cratera de Marte
No final de 2021, os cientistas da InSight relataram ao resto da equipe que haviam detectado um grande terremoto em 24 de dezembro. A cratera foi avistada pela primeira vez em 11 de fevereiro de 2022 por cientistas trabalhando no MSSS (Sistema de Ciência Espacial Malin, em português), que construiu e opera duas câmeras a bordo do MRO.
A Context Camera (CTX) fornece imagens em preto e branco de média resolução, enquanto o Mars Color Imager (MARCI) produz mapas diários de todo o planeta, permitindo aos cientistas rastrear mudanças climáticas em grande escala, como a recente tempestade de poeira regional que diminuiu ainda mais a energia solar da InSight.
A zona de explosão do impacto era visível nos dados do MARCI, que permitiram à equipe definir período de 24 horas em que o impacto ocorreu. Essas observações se correlacionaram com o epicentro sísmico, demonstrando conclusivamente que um impacto de meteoroide causou o grande terremoto de 24 de dezembro.
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“A imagem do impacto era diferente de qualquer outra que eu já tinha visto antes, com a enorme cratera, o gelo exposto e a dramática zona de explosão preservada na poeira marciana”, disse Liliya Posiolova, que lidera o Orbital Science and Operations Group no MSSS. “Não pude deixar de imaginar como deve ter sido testemunhar o impacto, a explosão atmosférica e os detritos ejetados a quilômetros de distância.”
Estabelecer a taxa em que as crateras aparecem em Marte é fundamental para refinar a linha do tempo geológica do planeta. Em superfícies mais antigas, como as de Marte e nossa Lua, há mais crateras do que na Terra; em nosso planeta, os processos de erosão e placas tectônicas apagam características mais antigas da superfície.
Novas crateras também expõem materiais abaixo da superfície. Nesse caso, grandes pedaços de gelo espalhados pelo impacto foram vistos pela câmera colorida High-Resolution Imaging Science Experiment (HiRISE) da MRO.
O gelo subterrâneo será um recurso vital para os astronautas, que poderão usá-lo para variedade de necessidades, incluindo água potável, agricultura e propulsores de foguetes. Gelo enterrado nunca foi visto tão perto do equador marciano, que, como a parte mais quente de Marte, é um local atraente para os astronautas.
Imagem destacada: NASA/JPL-Caltech/Universidade do Arizona
(Olhardigital)