Tecnologia é vista como o “santo graal” da energia limpa e renovável
Em meio ao aumento constante da emissão de gases prejudiciais ao meio ambiente, o Google anunciou nesta segunda-feira (30) a compra de eletricidade proveniente de uma usina de fusão nuclear localizada próxima à sede da empresa. Essa tecnologia, conhecida popularmente como “sol artificial”, é considerada o “santo graal da energia limpa” e tem sido alvo de pesquisas científicas por cerca de cinquenta anos.
Antes de tudo, é importante entender como funciona o sol artificial. Esse sistema de reatores de fusão nuclear recebe esse apelido porque busca reproduzir o processo que acontece no núcleo do nosso Sol, com o objetivo de gerar energia limpa e praticamente inesgotável. De maneira simples, a tecnologia se baseia na fusão de átomos leves para formar átomos mais pesados, liberando uma grande quantidade de energia. Diferentemente da fissão nuclear, que é o método usado pelas usinas tradicionais e gera resíduos radioativos de longa duração, o sol artificial utiliza menos recursos e não produz esses resíduos. Apesar de seu potencial, a indústria da fusão ainda não conseguiu demonstrar sua viabilidade técnica ou comercial até o momento. Porém, com o anúncio do Google, surge uma nova esperança para o desenvolvimento dessa tecnologia.
Pesquisadores da área vêm tentando, desde o século passado, reproduzir o mecanismo pelo qual as estrelas geram luz e calor. No caso do Sol, núcleos de hidrogênio se fundem para formar hélio, liberando grande quantidade de energia. Se esse processo puder ser replicado de forma controlada na Terra, poderíamos contar com uma fonte ilimitada de energia, sem a poluição associada à queima de combustíveis fósseis.
Contudo, há um grande desafio: a fusão nuclear requer temperaturas extremas, cerca de 100 milhões de graus Celsius, para ocorrer. Até 2022, essas condições severas — altas temperaturas e pressões — impediram que os cientistas obtivessem um ganho líquido de energia a partir da fusão. O único laboratório que conseguiu esse feito até então foi o Laboratório Nacional Lawrence Livermore. A diferença crucial entre fusão e fissão é que a segunda, usada atualmente, gera energia dividindo átomos, enquanto a fusão gera energia unindo-os. Por isso, a fusão é muito mais limpa.
O anúncio do Google veio logo após a divulgação do seu mais recente relatório de sustentabilidade, publicado na sexta-feira (27). O documento revelou que, apesar dos compromissos da empresa com energias renováveis, suas emissões de gases de efeito estufa continuaram aumentando. Mesmo sob o melhor cenário, a tecnologia de fusão não estará disponível a tempo de ajudar a empresa a alcançar a meta de redução de emissões até 2030.
Em uma teleconferência realizada na mesma sexta-feira, Michael Terrell, chefe de energia avançada do Google, declarou que o sol artificial é uma tecnologia capaz de transformar o mundo, apesar dos desafios de física e engenharia para torná-la viável comercialmente. O Google está investindo agora para concretizar essa visão no futuro.
O acordo firmado prevê a compra de 200 megawatts de energia limpa, futura e livre de carbono, da Commonwealth Fusion Systems (CFS), empresa privada responsável pela construção da usina de fusão que fornecerá eletricidade para o Google. Esses contratos são comuns para financiar projetos de geração de energia, embora o cronograma da fusão nuclear seja ainda incerto.
A CFS informa que o projeto do sol artificial está avançando e planeja conectar sua primeira usina de fusão à rede elétrica na Virgínia, Estados Unidos, no início da próxima década. A região possui corredores de data centers, onde empresas de tecnologia têm ampliado suas instalações para desenvolver ferramentas de inteligência artificial.
Porém, especialistas entrevistados pelo The Verge acreditam que pode levar décadas até que a tecnologia esteja disponível comercialmente. Atualmente, a CFS constrói uma fábrica piloto em Massachusetts, nos EUA.
Além do Google, outras empresas também investem na fusão nuclear. Em 2023, a Microsoft assinou contrato para adquirir energia de uma usina em desenvolvimento pela Helion Energy, que pretende iniciar suas operações até 2028. Recentemente, foi divulgado que startups do setor receberam cerca de 8 bilhões de dólares em investimentos privados nos últimos anos.
O Google realizou seu primeiro investimento na CFS em 2021, com o intuito de apoiar pesquisas e desenvolvimento, e agora faz um novo aporte financeiro, cujos valores não foram divulgados. Desde 2015, a empresa também investe na TAE Technologies, outra companhia de fusão nuclear, mas o contrato atual é seu primeiro diretamente relacionado à compra de energia.
Em 2021, o Google estabeleceu a meta de reduzir em 50% suas emissões de gases causadores do aquecimento global até 2030, tomando como base o ano de 2019. Entretanto, seu relatório mais recente mostra que as emissões aumentaram mais de 50% desde então, principalmente devido à crescente demanda por inteligência artificial.
O acordo de compra de 200 megawatts da CFS representa apenas uma fração das energias renováveis adquiridas pelo Google. Desde 2010, a empresa assinou mais de 170 contratos para aquisição de 22.000 megawatts de energia limpa, principalmente oriunda de fontes eólicas e solares, consideradas mais viáveis no curto prazo.
(Engenhariae)