Homem paralisado consegue sentir objetos através da mão de outra pessoa

By | 21/10/2025

Keith Thomas ficou paralisado do peito para baixo após um acidente de mergulho em 2020. Recentemente, voltou a sentir e a mover uma mão. Mas não foi a sua.

Graças a uma experiência pioneira conduzida por investigadores do Feinstein Institutes for Medical Research, em Nova Iorque, o norte-americano na casa dos 40 anos conseguiu controlar e sentir a mão de outra pessoa como se fosse a sua própria, através de um sistema de implantes cerebrais ligados por inteligência artificial.

“Criámos uma ligação mente-corpo entre dois indivíduos diferentes”, explicou o responsável pelo estudo, Chad Bouton, citado pela New Scientist. O investigador acredita que esta tecnologia poderá, no futuro, transformar a reabilitação de pessoas com lesões na medula espinal e até permitir que seres humanos partilhem sensações à distância.

O processo começou em 2023, quando a equipa implantou cinco conjuntos de minúsculos elétrodos nas áreas do cérebro de Keith Thomas responsáveis pelos movimentos e pela sensação táctil da mão direita. Esses sinais cerebrais foram decifrados por um modelo de inteligência artificial e reenviados, sem fios, para elétrodos colocados no antebraço, que estimulavam os músculos, permitindo-lhe mover a mão.

Simultaneamente, sensores de força colocados na pele devolviam impulsos ao cérebro, recriando a sensação do toque.

De seguida, os cientistas ligaram o sistema de Thomas ao corpo de uma mulher sem deficiência. Ela usava sensores e elétrodos na mão, mas permanecia imóvel. Ao imaginar que movia a sua própria mão, Thomas conseguia abrir e fechar a mão da mulher.E era também capaz de sentir, no seu próprio cérebro, as texturas e a pressão dos objetos tocados por essa mão alheia, como uma bola de basebol, uma bola de espuma macia e outra mais rija, relata o estudo do caso, publicado a 22 de setembro na medRxiv.

Vendado, o paciente conseguiu distinguir entre os objetos com uma precisão de 64%. Embora ainda longe da perfeição, Bouton acredita que a tecnologia pode ser aprimorada com mais sensores e elétrodos.

Num outro ensaio, Thomas utilizou o sistema para ajudar uma mulher parcialmente paralisada, Kathy Denapoli, a segurar e beber de uma lata — algo que ela não conseguia fazer sozinha. Após meses de colaboração, Denapoli recuperou quase o dobro da força na mão, um progresso superior ao de terapias convencionais, segundo Bouton.

“Foi incrível, estava a ajudar alguém só ao pensar nisso”, disse Thomas.

O investigador responsável planeia expandir os testes a mais pessoas no próximo ano, mas reconhece os desafios éticos da tecnologia.

“Será bom ou mau para a sociedade permitir que alguém sinta e controle o corpo de outra pessoa?”, questiona Harith Akram, do University College London Hospitals.

(ZAP)