Beatrice Welles afirma estar “furiosa e enojada” com projeto da Showrunner que pretende reconstruir cenas do filme de seu pai
Beatrice Welles, filha do icônico cineasta Orson Welles, manifestou forte indignação contra os planos da empresa de inteligência artificial Showrunner de recriar 43 minutos perdidos de “The Magnificent Ambersons” (1942), considerado o “irmão” de Cidadão Kane.
As cenas foram destruídas pela RKO na época, quando o estúdio alterou o filme para lhe dar um final mais otimista.
Em publicação no Instagram, Beatrice declarou estar “com raiva e enojada” com a iniciativa.
De todos os diretores, tiveram que escolher meu pai, um homem que fez apenas 13 filmes. Um diretor para o qual toda Hollywood, naquela época e agora, virou as costas”, escreveu.
A herdeira lembrou que, em vida, o trabalho de Welles foi constantemente alterado por estúdios, citando “A Marca da Maldade”, e criticou o que considera mais uma violação da integridade artística de seu pai.
A Showrunner, descrita como a “Netflix da IA” e apoiada pela Amazon, anunciou que o projeto não tem fins comerciais, já que os direitos da obra pertencem à Warner Bros. Discovery e à Concord.
O CEO da empresa, Edward Saatchi, afirmou ao Hollywood Reporter que o objetivo é puramente cultural: “O propósito não é comercializar os 43 minutos, mas vê-los existir no mundo depois de 80 anos de pessoas perguntando se este poderia ter sido o melhor filme já feito em sua forma original”.
Debate
A notícia gerou debate entre cinéfilos e admiradores de Orson Welles. Alguns apoiadores argumentaram que a reconstrução busca apenas aproximar a obra da visão original do diretor, enquanto outros, como Beatrice, consideram o ato uma interferência indevida.
Segundo o ‘Independent’, a controvérsia reacende discussões mais amplas sobre o uso da inteligência artificial para recriar obras artísticas perdidas e sobre os limites entre preservação, inovação e respeito à memória de grandes criadores.
Para muitos críticos, a polêmica em torno de “The Magnificent Ambersons” expõe um dilema contemporâneo: até que ponto a tecnologia deve intervir em obras inacabadas ou mutiladas pela história, e se recriações digitais podem realmente honrar a visão original de artistas como Orson Welles sem distorcer seu legado.
(AH)