Pesquisadores japoneses alcançam avanço na manipulação da geometria do “universo eletrônico”

By | 11/05/2024

Pesquisadores japoneses manipulam a geometria do “universo eletrônico”, descrevendo os elétrons de forma análoga ao Universo físico.

Pesquisadores japoneses alcançaram recentemente um marco significativo ao desenvolver as teorias e experimentos necessários para manipular a geometria do chamado “universo eletrônico”. Essa abordagem descreve a estrutura dos elétrons e seus estados quânticos de forma matematicamente análoga à descrição do Universo físico em sua totalidade.

Embora a condução de eletricidade tenha sido historicamente regida pela Lei de Ohm, que estabelece uma relação proporcional entre a corrente elétrica e a tensão aplicada, a demanda crescente por dispositivos eletrônicos mais versáteis e eficientes impulsionou os cientistas a buscar maneiras de contornar e até superar essa lei.

A chave para esse avanço foi encontrada na mecânica quântica: uma geometria única, conhecida como métrica quântica, que permite a ocorrência de uma condução não-ôhmica. Em outras palavras, uma condução elétrica que não está estritamente vinculada à Lei de Ohm. Essa métrica quântica é uma propriedade intrínseca do material onde o fenômeno ocorre, sugerindo ser uma característica fundamental do comportamento das partículas que compõem esse material.

Esquerda: Condução ôhmica convencional acompanhada por uma estrutura métrica quântica trivial. Centro: Movimento da luz em um forte campo gravitacional no Universo real. Direita: Condução não-ôhmica decorrente de uma estrutura métrica quântica não trivial do “universo eletrônico”, que é ajustável magneticamente. [Imagem: Jiahao Han et al. – 10.1038/s41567-024-02476-2]

O termo “métrica quântica” foi inspirado no conceito de métrica da Relatividade Geral, que descreve como a geometria do Universo se deforma sob a influência de forças gravitacionais intensas. Da mesma forma, compreender a métrica quântica tornou-se crucial para a busca por uma condução não-ôhmica dentro dos materiais, visando aproveitar ao máximo seus potenciais benefícios.

Esta métrica delineia a geometria do “universo eletrônico”, que é análogo ao Universo físico. O desafio atual reside em manipular a estrutura da métrica quântica dentro de um único dispositivo e compreender seu impacto na condução elétrica, idealmente à temperatura ambiente, para viabilizar aplicações práticas mais amplas.

Para abordar esse desafio, Jiahao Han e seus colegas da Universidade Tohoku e da Agência de Energia Atômica do Japão conseguiram manipular a estrutura quântica de uma heteroestrutura de filme fino. Esta estrutura era composta por um ímã exótico (Mn3Sn) e um metal, a platina (Pt), e apresentava uma textura magnética crucial quando em interface com a Pt. Essa textura magnética era altamente sensível a um campo magnético externo, que podia ser utilizado para controlá-la.

Em um componente de barra Hall de Mn3Sn/Pt sob um campo magnético H (esquerda), o efeito Hall de segunda ordem é obtido a partir do experimento e da modelagem teórica baseada na métrica quântica (direita). [Imagem: Jiahao Han et al. – 10.1038/s41567-024-02476-2]

Os pesquisadores conseguiram medir e controlar magneticamente uma condução não-ôhmica, conhecida como efeito Hall de segunda ordem, onde a tensão responde ortogonal e quadraticamente à corrente elétrica aplicada. Através de modelagem teórica, eles confirmaram que as observações podiam ser explicadas exclusivamente pela métrica quântica.

Han explicou: “Nosso efeito Hall de segunda ordem surge da estrutura métrica quântica que se acopla com a textura magnética específica na interface Mn3Sn/Pt. Portanto, podemos manipular com flexibilidade a métrica quântica modificando a estrutura magnética do material por meio de abordagens spintrônicas, e verificar essa manipulação no controle magnético do efeito Hall de segunda ordem.”

Essa descoberta não apenas aprofunda nossa compreensão da ciência quântica fundamental dos elétrons, mas também abre caminho para o desenvolvimento de componentes spintrônicos inovadores, utilizando essa condução não convencional da métrica quântica.

Fonte: Inovação Tecnológica