A Amazon restringiu o limite de livros autopulicados no seu site para três por dia depois de, nos últimos meses, o número elevado de obras submetidas ter levantado suspeitas de que teriam sido escritas por inteligência artificial.
“Embora não tenhamos visto um aumento na quantidade de livros publicados, de forma a evitar abusos, vamos reduzir os limites em vigor para novas criações”, lê-se no comunicado partilhado pela empresa no fórum “Kindle Direct Publishing” (KDP) – que permite que os autores publiquem os livros e os coloquem à venda no site da Amazon.
A empresa com sede na Califórnia, EUA, contou, em declarações ao jornal britânico “The Guardian”, que o limite está fixado em três títulos, embora o número possa ser ajustado “se necessário”. A Amazon confirmou que já havia um limite para o número de livros autopublicados por dia, mas recusou-se a dizer qual.
A Amazon, segundo o comunicado, está “a monitorizar ativamente a rápida evolução da IA generativa e o impacto que está a ter na leitura, escrita e publicação”, e considera que “muito poucas” editoras serão afetadas pela mudança.
Miriam Johnson, docente na Universidade de Oxford Brookes, admite que a limitação de autopublicações pode levar a que as novas criações diminuam, “mas para aqueles que estão a ganhar dinheiro a inundar o mercado com livros gerados por IA e a publicar mais de três por dia, encontrarão uma solução alternativa”. Os autores e as editoras terão, igualmente, de procurar uma exceção à regra.
O limite de três livros surge uma semana depois de a Amazon ter criado uma outra regra que exige aos autores que informem a empresa quando o conteúdo dos livros publicados é gerado por IA. A Amazon também acrescentou uma nova seção às directrizes com definições de conteúdo “gerado por IA” e “assistido por IA”.
“É improvável que o material gerado por IA desapareça em breve, tendo em conta os inúmeros cursos que estão a ser promovidos por pessoas que procuram ter lucros fáceis com a venda de material gerado por IA – muitos deles de baixa qualidade e alguns até fraudulentos”, defende a autora Jane Friedman, que teve de lutar para ver removidos livros gerados por IA, falsamente listados como sendo escritos por ela.
Autores acusam IA de práticas exploratórias
Há cada vez mais escritores a processarem a OpenAI, fabricante da ferramenta de inteligência artificial ChatGPT, por violação de direitos de autor. Escritores proeminentes como Nora Roberts, Margaret Atwood, Louise Erdrich e Jodi Picoult dirigiram, em junho, uma carta aos CEO da OpenAI, Google, Microsoft, Meta e outros desenvolvedores de IA, acusando-os de práticas exploratórias na construção de “chatbots” que “imitam e regurgitam” a sua linguagem, estilo e ideias.
A Authors Guild, a maior e mais antiga organização de escritores profissionais dos Estados Unidos, acusou a Amazon de usar os seus livros “sem permissão” para treinar os “grandes modelos de linguagem” do ChatGPT. “Estes livros inundarão o mercado e muitos autores ficarão desempregados”, avisou Mary Rasenberger, diretora executiva da associação.
(JN)