“Marco extraordinário”. Macaco viveu dois anos com um rim de porco

By | 15/10/2023

Pela primeira vez, um macaco sobreviveu com rins geneticamente modificados de porco durante mais de dois anos — mais precisamente 758 dias — graças a tecnologia CRISPR, que alterou genes de porcos antes do transplante.

O bem-sucedido estudo pré-clínico foi descrito num artigo publicado na revista científica Nature esta quarta-feira e já é considerado um marco na área de transplantes de órgãos entre espécies.

O procedimento histórico, muito pela duração da sobrevivência do animal transplantado, foi liderado por investigadores da empresa de biotecnologia eGenesis e da Escola de Medicina de Harvard, ambas situadas nos EUA.

A partir de agora, a empresa irá trabalhar para dar início a ensaios clínicos com xenotransplantes de rins em humanos, o que poderá, um dia, eliminar as listas de espera para um transplante de órgão.

Transplante de rins entre espécies

A experiência envolveu 21 macacos que tiveram os seus rins retirados e foram submetidos a um transplante, com algumas especificidades. Se os investigadores simplesmente “tirassem” o rim de um porco e o implantassem noutra espécie, não resultaria. Assim, as modificações genéticas, utilizando a técnica CRISPR, foram comuns a todas as experiências.

A questão é que, de acordo com os autores, os macacos transplantados sobreviveram apenas 24 dias quando os rins foram editados para desativar apenas três genes suínos que provocam uma forte rejeição ao novo órgão.

Agora, perceberam que a média de sobrevivência aumenta significativamente se, para além dessa desativação dos genes suínos, forem inseridos sete transgenes humanos que melhoram a aceitação. Para além disso, foram desativados os retrovírus endógenos no genoma suíno. Neste novo cenário, o tempo médio de vida era de 176 dias, com um dos espécimes a ultrapassar os dois anos.

Marco na área dos xenotransplantes

Para o diretor-executivo da eGenesis, Michael Curtis, a realização é um “marco extraordinário” na área dos xenotransplantes, uma vez que poderá, um dia, proporcionar “melhores resultados para inúmeras pessoas que necessitam de transplantes de órgãos”.

Com base nestes dados, a equipa tenciona submeter um pedido à agência Food and Drug Administration (FDA) para iniciar os primeiros ensaios com transplantes de rins de porco em humanos.

Órgãos de porcos em humanos

Na ainda curta história dos xenotransplantes em humanos, no ano passado, o primeiro paciente do mundo recebeu um coração de porco editado geneticamente. Poucos meses depois, faleceu. Mais recentemente, em Setembro deste ano, o segundo transplante do tipo foi realizado num homem de 58 anos, que tinha uma doença cardíaca em fase terminal.

Até ao momento, foi realizado um único transplante de rins de porco editados para um paciente humano, mas este já tinha o diagnóstico de morte cerebral confirmado quando recebeu a doação. Os rins mantiveram-se a funcionar durante 30 dias até a experiência ser concluída, abrindo precedentes para mais investigações do tipo.

(ZAP)