Compreender o Futuro: Smart Cities em debate

By | 24/09/2023

No evento Compreender o Futuro – Smart Cities, que foi organizado pela Exame Informática e decorreu na DNA Cascais, discutiu-se o futuro das cidades e, sobretudo, de como a tecnologia poderá ser usada para melhorar a vida dos cidadãos. Apesar dos três painéis de discussão terem tido temas bem diferentes – oportunidades económicas geradas pelas Smart Cities, mobilidade inteligente e saúde e qualidade de vida –, “interoperabilidade” foi a palavra que mais se ouviu, sendo um denominador comum aos três painéis. A opinião unânime é que a recolha e processamento de dados assumem o papel central nas Smart Cities.

Economia como ponto de partida

O painel ‘Smart Cities: Ecossistema de Oportunidades’ abordou a temática de como a aplicação das tecnologias nas cidades pode funcionar como impulsionador da economia. Alisson Ávila, Head of Applied Strategy na Nova SBE Innovation Ecosystem, começou por destacar o quão importante é para um resultado final satisfatório os empreendedores perceberem como podem endereçar problemas concretos que tragam mais-valias reais para os cidadãos, deixando para trás a ideia da ‘inovação pela inovação’.

Pedro Machado, Head of B2B New Business da NOS, e Nuno Piteira Lopes, vereador-executivo da Câmara Municipal de Cascais, deram exemplos concretos de projetos que já desenvolveram: da iluminação pública à gestão de resíduos, passando pela mobilidade e segurança, por exemplo. Sobressaiu a ideia de pensar em Smart Cities de forma estruturada e não para seguir modas, como se constatou pelo relato de Nuno Piteira Lopes de como uma outra autarquia avançou com a compra de autocarros elétricos e acabou por ficar com eles parados por não ter pensado na necessária infraestrutura de carregamento.

Enquanto o Governo não avança com o texto final da Estratégia Nacional de Smart Cities, refletiu-se sobre a dicotomia interoperabilidade versus independência na tomada de decisões. Se, por um lado, União Europeia, Governo nacional e autarquias locais devem estar alinhados, Nuno Piteira Lopes realçou que há situações em que uma Câmara consegue ter vantagens financeiras em avançar para contratualizações de forma independente. O vereador deixou ainda uma mensagem otimista sobre o objetivo da União Europeia de ter 100 cidades inteligentes e neutras em carbono em 2030, sendo que três delas são portuguesas: Lisboa, Porto e Guimarães. Desde que consigamos aprender as lições de episódios como os autocarros elétricos sem carregadores.

 

300 novos postos de carregamento em Cascais

No segundo painel, dedicado à Transição Energética e Mobilidade Inteligente, Celestino Alves, da Ubirider, defendeu a utilização de sistemas de informação interoperáveis para se poder criar plataformas de mobilidade eficientes, que conjuguem diferentes meios de transporte. Como “aliás, já fazemos em Cascais graças à visão da Câmara Municipal”. Para a startup portuguesa, é importante que cidades e municípios se juntem para criar ecossistemas de mobilidade mais abrangentes e economicamente sustentáveis. Celestino Alves não esconde que gostaria de ver a solução aplicada em Cascais disponível numa geografia mais ampla.

No mesmo painel, Alexandre Videira, administrador da Mobi.E, também sublinhou a importância da interoperabilidade dos dados, dando como exemplo a rede de carregamento Mobi.E, onde “a gestão centralizada dos dados facilita muito a vida dos utilizadores, que podem usar cartões ou apps de qualquer fornecedor de energia de forma transparente”. Este responsável chamou ainda a atenção para a dificuldade que os operadores muitas vezes encontram em instalar postos de carregamento em espaços públicos, uma consequência de burocracias que devem ser resolvidas para garantir a maior capilaridade da rede de carregamento. Será esta dificuldade uma das razões que levam os operadores a preferir a instalação dos postos em espaços privados de acesso público, como é o caso de parques de estacionamento de supermercados e centros comerciais.

O crescimento da rede pública de carregamento preocupa Francisco Geraldes, CEO da Astara Portugal, que garante que, após um período de indefinição provocado pelos responsáveis políticos europeus, os fabricantes de automóveis estão a responder à solução preconizada pelos reguladores, ou seja, a eletrificação do parque automóvel. “Não vão faltar modelos nem opções, desde carros mais pequenos e económicos, com baterias mais pequenas, a carros maiores e mais caros, com baterias maiores”, adicionando, “a indústria está, como sempre, a conseguir responder”.

E sobre a rede pública de carregamento gerida pela Mobi.E, Paulo Marques, diretor do Departamento de Mobilidade da Cascais Próxima, revelou uma boa notícia: a Câmara Municipal de Cascais abriu um concurso público para a instalação de 300 postos de carregamento na via pública, cada um deles com duas tomadas. O que significa que vão ser instalados mais 600 pontos de carregamento normal no concelho de Cascais.

A saúde em transformação

A terminar a manhã, um tema que toca a todos. O que pode o mundo digital fazer pela saúde de todos nós? Muito, concordaram todos os participantes na mesa-redonda intitulada Saúde e bem-estar nas Smart Cities, desde que saibamos aproveitar o potencial das ferramentas disponíveis. Esta responsabilidade também é dos municípios, como defendeu a vereadora da Câmara de Cascais, com o pelouro da Saúde, Carla Semedo, que deu exemplos de iniciativas da autarquia na promoção da saúde mental e seguimento remoto ao idoso, sempre acompanhadas de ações de literacia digital. Pedro António, chief future office do Ageas Portugal, também deu o exemplo da telemedicina, normalizada durante a pandemia, ou as aplicações que monitorizam condições de saúde e antecipam o aparecimento de patologias. O responsável realçou também o forte investimento feito pelo grupo para garantir a proteção e anonimato dos dados dos clientes.

Mas nada faz sentido se as várias ferramentas e entidades não ‘conversarem’ entre si. Ainda neste painel, Joaquim Cunha, diretor-executivo na Health Cluster Portugal, e Pedro Gouveia, cirurgião e investigador na Fundação Champalimaud, foram muito críticos da dificuldade que os pacientes sentem em obter os seus dados de saúde. Ambos defendem a criação de standards de interoperabilidade seguros, de modo a que os dados possam acompanhar os doentes. Só assim será possível atingir um sistema de saúde menos centrado nos hospitais, com efeitos positivos em todos os elementos da equação, dos doentes, aos profissionais. Neste aspeto, Pedro Gouveia sugere que, recorrendo à tecnologia, se criem salas de saúde em, por exemplo, espaços comerciais e condomínios, que permitam pré-diagnósticos e até iniciar tratamentos remotamente. “Se temos espaços para melhorar a qualidade de vida, como ginásios e piscinas, por que não criarmos espaços dedicados à Saúde?”, questionou.

Na Siemens Healthiniers, representada pelo seu digital health director, Hugo Marques, uma das grandes apostas é a criação de um gémeo digital de cada um de nós, o que permitiria antecipar o aparecimento de doenças, testar terapêuticas e apostar na verdadeira medicina preventiva. O futuro tornado presente.

(Exameinformatica)