Os Países Baixos são o único fornecedor global de tecnologia que usa luz ultravioleta para gravar circuitos em chips de memória. A falta de acesso está a atrasar os esforços chineses para desenvolver semicondutores para telemóveis
O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês pediu esta quarta-feira, 24 de maio, à Holanda que não bloqueie o acesso pela China a tecnologia avançada necessária para o fabrico de semicondutores, durante um encontro com o homólogo holandês.
A frustração de Pequim com as restrições impostas pela Holanda, Estados Unidos e Japão no acesso a alta tecnologia aumentou as tensões políticas.
Não há indicação de que os Países Baixos estejam a planear afrouxar os rígidos controlos impostos sobre as exportações para a China de tecnologia que usa luz ultravioleta para gravar circuitos nos chips de memória mais avançados.
A firma holandesa ASML é o único fornecedor global deste tipo de tecnologia.
O governo dos Países Baixos proibiu a empresa de exportar algumas das suas máquinas para a China em 2019, mas a empresa ainda vendia sistemas de litografia de qualidade inferior ao país asiático.
A falta de acesso a estas ferramentas está a atrasar os esforços chineses para desenvolver semicondutores para telemóveis, sistemas de inteligência artificial e outras tecnologias cruciais para as indústrias do futuro, mas que também têm implicações militares.
“Quanto à questão das máquinas de litografia, a China tem sérias preocupações sobre este assunto”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, em conferência de imprensa.
“Devemos trabalhar juntos para proteger conjuntamente a ordem comercial normal entre os nossos países, as regras do comércio internacional e manter a estabilidade nas cadeias industriais e de fornecimento globais”, explicou.
“Partilhamos [com a parte chinesa] as nossas preocupações com a segurança nacional”, disse o ministro holandês, Wopke Hoekstra. “Eu, é claro, ouvi com atenção o que [Qin Gang] disse, e esse é um assunto sobre o qual continuaremos a dialogar”, explicou.
Pequim parece estar a tentar melhorar as relações com os governos europeus, visando possivelmente enfraquecer a aliança com Washington.
Analistas políticos sugeriram que esse desejo motivou a decisão de Pequim de nomear um enviado para discutir uma possível solução para a guerra na Ucrânia.
A iniciativa dá ao governo do Presidente chinês, Xi Jinping, uma chance para atenuar as críticas ocidentais motivadas pela sua aproximação ao homólogo russo, Vladimir Putin.
Qin pediu paciência enquanto o enviado, Li Hui, visita os governos europeus para discutir um possível “acordo político”.
Hoekstra, que também é o vice-primeiro-ministro dos Países Baixos, disse que conversou com Qin sobre a guerra, mas não deu mais detalhes.
“A agressão da Rússia contra a Ucrânia deve parar e a Europa e a Holanda vão continuar do lado da Ucrânia pelo tempo que for necessário”, assegurou.
Qin tentou minimizar os receios suscitados pela ascensão da China.
“O que a China exporta é oportunidade, não crise”, garantiu. O ministro chinês reclamou do “fenómeno anormal” e “exagerado” motivado por “departamentos de inteligência” não especificados.
“Estas acusações estão a ser exageradas pela imprensa”, disse Qin. “O resultado é que isto corrói o apoio popular à amizade entre os nossos dois países”, descreveu.
(Expresso)