Processos em Portugal. TikTok coloca “problemas muito complicados de proteção” de dados pessoais

By | 09/04/2023

A organização não-governamental Ius Omnibus afirma que os utilizadores portugueses estão “perante um conjunto de práticas ilegais, desleais e de consequências extremamente gravosas”.

A organização não-governamental Ius Omnibus justifica os processos judiciais colocados em Portugal contra a aplicação TikTok com os “problemas muito complicados de proteção” de dados pessoais e da própria saúde dos utilizadores mais jovens da rede social chinesa.

Em entrevista à Lusa, a secretária-geral desta associação de defesa dos direitos dos consumidores, Daniela Antão, realça que as duas ações judiciais que deram entrada no Juízo Central Cível de Lisboa podem levar a indemnizações coletivas até 1,12 mil milhões de euros em virtude de alegadas “práticas comerciais desleais” e de supostas infrações na proteção dos direitos dos utilizadores.

Processos em Portugal. TikTok coloca "problemas muito complicados de proteção" de dados pessoais

“O caso do TikTok coloca problemas muito complicados de proteção de crianças, adolescentes e adultos em geral”, afirma, salientando: “Não podemos deixar de atuar perante um conjunto de práticas ilegais, desleais e de consequências extremamente gravosas que entendemos que as condutas do TikTok estão a causar aos utilizadores em Portugal”.

Segundo a secretária-geral, a rede social pertencente ao grupo chinês ByteDance comunica a sua política de privacidade de forma “pouco transparente e opaca”, levando a que os utilizadores não tenham “consciência exata dos dados que estão a ser recolhidos, da utilização que é feita desses dados, de como são transferidos, a que entidades e a extensão” dessa informação.

Por outro lado, Daniela Antão alerta que o TikTok mantém “um conjunto de conteúdos que são perigosos para a saúde física e mental, que induzem o suicídio e a automutilação e promovem distúrbios alimentares” entre os mais jovens.

Nesse sentido, foram interpostas duas ações: uma destinada aos utilizadores abaixo dos 13 anos, para os quais se defende uma indemnização até 450 milhões de euros; e outra relativa aos utilizadores do TikTok com mais de 13 anos, que reivindica uma compensação até 670 milhões de euros. Para assegurar o direito à indemnização, os utilizadores têm de se registar numa plataforma que deve ficar disponível online esta quarta-feira.

“No caso dos menores de 13 anos, o que se destaca é a circunstância de os menores não poderem nem registar-se nem utilizar a plataforma sem autorização dos respetivos representantes legais. Está demonstrado na nossa ação que o TikTok não implementa medidas básicas necessárias para impedir esse acesso; não só não adota essas medidas, como, consciente e deliberadamente, tira proveito económico desses utilizadores”, afirma.

Além do impacto financeiro que estes processos podem ter, a secretária-geral da Ius Omnibus assinala potenciais repercussões sociais. “Se o TikTok respeitar as normas que o vinculam (…), aquilo que vai acontecer é que temos uma geração de crianças e adolescentes que deixam de estar sujeitos a formas que podem causar graves transtornos ao desenvolvimento da personalidade e criam adição agravada”, observa.

“O grande impacto social”, argumenta Daniela Antão, “é o de que esta plataforma deixe de lesar os utilizadores portugueses e que tenda – através da própria disciplina dos utilizadores e do mercado – para ser uma plataforma de entretenimento saudável”.

Questionada sobre as crescentes restrições levantadas em diversos países, a representante da organização não-governamental distancia a natureza jurídica destes processos de eventuais considerações geopolíticas ou de segurança.

“A lei tem de ser aplicada, seja a empresa de origem chinesa, francesa, americana, islandesa. É totalmente objetivo e não deve haver qualquer interferência de considerações políticas”, resume a jurista, que ainda assim defende que “do ponto de vista português e das autoridades portuguesas, há atos, ações e iniciativas a adotar” nesta matéria.

“Obrigar a empresa a ter regras sobre a entrada na plataforma que sejam verdadeiramente transparentes e que permitam que as pessoas saibam exatamente aquilo que está a ser feito com os seus dados é fundamental”, conclui.

(TSF)