Ainda é um recém-nascido e já se tornou num dos temas mais ferverosamente discutidos em variados fóruns. Refiro-me ao ChatGPT, a mais recente ferramenta tecnológica lançada pela Open.AI.
O ChatGPT (Generative Pre-trained Transformer) é um chatbot (chat [conversa] + bot [robot]); é um programa de computador desenvolvido para processamento de linguagem natural, utilizando Machine Learning (ou mais popularmente, Inteligência Artificial). E tem uma notável capacidade de interagir em forma de diálogo e de fornecer respostas que podem parecer surpreendentemente humanas.
À margem das opiniões de especialistas e não especialistas debatendo as vantagens e inconvenientes que o ChatGPT possa ter, e leiga em Machine Learning, atrevo-me a dizer que estamos perante uma ferramenta que vai verdadeiramente revolucionar a forma de trabalhar e de aprender. O ChatGPT executa, de uma forma extraordinária, as instruções fornecidas ou responde às perguntas que lhes são colocadas. Vejamos, p.ex., o simples pedido de “Dá-me 10 ideias originais para organizar uma festa de antigos alunos da Universidade” (sim, e em português de Portugal!) ou “Escreve um texto, mencionando vários autores, sobre a aprendizagem ao longo da vida. E relaciona com a missão das universidades de estar ao serviço da sociedade, da comunidade e da economia” ou, ainda, pedidos tecnicamente mais complexos, como modelos e funções matemáticas, programação numa certa linguagem ou problemas de física.
E, consoante o pedido ou pergunta, obtemos um texto completo, com menções a autores ou especialistas (ou economistas ou prémios Nobel – é só inserir na pergunta!) ou as linhas de código, ou as instruções, passo a passo, de como resolver um problema matemático. E se quisermos que o texto denote/transmita uma sensação positiva, de alegria ou de entusiasmo ou, opostamente, de tristeza ou ansiedade, basta dar essa instrução.
Em termos de ferramenta de trabalho, penso que estamos a assistir a algo que permitirá dar um salto maior do que o do pergaminho e pena para o Microsoft Word (ou qualquer outro processador de texto), ou da velhinha conta de dividir ou de multiplicar à mão para o Microsoft Excel ou similar. O ChatGPT vai ser, prevejo, muito em breve, a ferramenta básica de trabalho.
O output do ChatGPT pode ainda ser “grosseiro” (foi lançado a 30 de novembro de 2022!) e produzir soluções incompletas ou erradas, ou textos com falhas de linguagem. Mas pode ser usada para ajudar a automatizar algumas tarefas que normalmente são realizadas por humanos ou a obter informações de forma mais rápida e eficiente. A produtividade pode efetivamente aumentar, partindo-se de soluções já previamente alinhadas (próximas da final, sugeridas pelo ChatGPT) ou de primeiros drafts de textos com análises de relações, ou conceitos e explicações simples e principais.
No que diz respeito às Universidades e às Escolas em geral, existe uma emergência na análise do impacto desta ferramenta tecnológica na forma de ensino, de aprendizagem e no modo de avaliação. Um perigo para o ensino? (por exemplo, o ChatGPT realizar todo o trabalho pelo aluno). Sim, é um perigo se nada se fizer e se não se adequar o tipo de ensino e de avaliação tradicional à realidade atual.
A meu ver, é uma gigante oportunidade para reforçar uma das missões das Universidades: preparar os jovens para desempenharem, com competência, uma profissão e, na aprendizagem ao longo da vida (formação executiva e pós-graduada), dotar os alunos com competências atualizadas e necessárias para maiores responsabilidades e/ou aptidões específicas a novos desafios.
É que, tipicamente, o exercício destas profissões exige a resolução quotidiana de problemas. E o ChatGPT adiciona informações e soluções que podem fazer com que o ponto de partida de decisão seja bem mais avançado.
Porém, o ChatGPT, no seu estágio atual de desenvolvimento, produz muitas soluções que são corretas, mas muitas outras que não o são totalmente, ou são mesmo erradas. Ainda assim, frequentemente, mesmo não corretas ou até erradas apontam um caminho para uma solução.
Neste cenário, não parece avisado descartar o ChatGPT pelos perigos e potenciais efeitos perversos. O que tem de ser feito a nível do ensino é refletir (e agir!) sobre como conduzir o ensino tendo em consideração a existência desta ferramenta. Como ensinar e como conseguir encaminhar o aluno, em face de uma solução imperfeita, para a solução do problema.
Para terminar, o que responderá o ChatGPT à pergunta “Como podem as universidades adaptar a sua forma de ensino e de aprendizagem para tirar o maior benefício do ChatGPT?”
(Exameinforamtica)